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Que semana para o Twitter Brasil. Nos últimos dias, a timeline da rede social foi inundada por tweets com as hashtags #TwitterApoiaFakeNews
, #TwitterOmisso
e #TwitterCúmplice
, publicadas por pessoas interessadas em saber como a empresa está aplicando sua política de combate a desinformação sobre a Covid-19.
O Ministério Público Federal também quer saber.
Abaixo, o Núcleo explica essa treta ponto a ponto.
Críticas
As críticas feitas por pesquisadores, acadêmicos, jornalistas e figuras políticas sob as hashtags estão ligadas a três pontos principais:
- A não-disponibilização para usuários no Brasil de ferramenta para denunciar conteúdo desinformativo ligado à COVID-19, restando apenas opções genéricas de denúncia. Em outros países, como nos Estados Unidos, usuários possuem essa opção de denúncia. A ferramenta, aliás, parece estar disponível em português, mas apenas para usuários fora do território nacional.
- A não-remoção de tuítes que falsamente questionam a eficácia das vacinas, como foi o caso da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), que possui conta verificada.
- A falta de clareza na política de verificação depois que a blogueira bolsonarista Barbara Destefani recebeu o selo azul de verificação na virada do ano. Além de frequentemente violar políticas da plataforma, Destefani é investigada em inquérito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foi apontada pelo relatório final da CPI da Pandemia dentre as contas que disseminaram desinformação ligada à COVID-19 durante a pandemia.
Na quinta-feira a tarde, o Ministério Público Federal entrou no jogo.
Em ofício enviado ao Twitter, o procurador da República em São Paulo Yuri Corrêa Luz, que cita explicitamente a movimentação em torno da hashtag no Twitter, solicita que representantes da empresa no Brasil respondam em até 10 dias sobre:
- "disponibilização, aos usuário dessa plataforma, de via de denúncia de conteúdos desinformativos envolvendo a pandemia da COVID-19, ainda em curso"
- "por que motivo usuários de outros países, como os Estados Unidos da América, dispõem de opção para denunciar à plataforma conteúdos desse tipo, ao passo que usuários brasileiros, não"
- "se estão sendo adotadas providências para que tal funcionalidade de denúncia seja disponibilizada também a usuários brasileiros e, em caso positivo, qual o prazo previsto para sua implementação na plataforma"
- "informe quais os critérios utilizados pelos responsáveis pela plataforma, no Brasil, para conferir verificação a usuários, e indique se, entre os critérios usados para negar tal status de verificação, está ou não o eventual envolvimento do usuário na veiculação de conteúdo desinformativo sobre temas de saúde pública, a exemplo daqueles atinentes à COVID-19, em relação aos quais já há farto consenso de autoridades sanitárias ao redor do mundo".
VERIFICAÇÃO
A blogueira bolsonarista Barbara Destefani, que tem um canal com 1,5 milhão
de assinantes no Youtube, não foi a primeira conta bolsonarista a ter sua verificação concedida pelo Twitter durante a pandemia.
O jornalista Guilherme Felitti manteve um registro em sua conta de Twitter de ocasiões em que a empresa foi leniente com desinformação sobre COVID-19.
Em janeiro de 2021, logo depois de criar sua conta na plataforma, o assessor especial da Presidência da República Tércio Arnaud Tomaz, teve seu perfil verificado. Tomaz é apontado como um dos integrantes do Gabinete do Ódio.
Em dezembro de 2021, o Twitter verificou a conta do partido Aliança pelo Brasil, que ainda não possui registro junto ao TSE, e que dissemina desinformação sobre saúde. Felitti também manteve um registro de perfis não verificados mas que propagavam informações falsas sem serem punidos pelo Twitter.
Uma outra conta pró-Bolsonaro que foi verificada pelo Twitter usa o pseudônimo de um gato. A conta, que frequentemente propaga desinformação ligada à vacina contra a COVID-19, teve o selo removido pelo Twitter, que também tirou um tuíte do ar.
Posicionamento
Na noite de quinta-feira, a empresa publicou um longo fio em sua conta oficial na rede para trazer esclarecimentos.
O esclarecimento parece ter sido insuficiente. Muitos tuiteiros apontaram que, ao insistir na ideia de que o Twitter "tem o desafio de não arbitrar a verdade e dar às pessoas que usam o serviço o poder de expor, contrapor e discutir perspectivas", a empresa cai no negacionismo de tratar ciência como opinião ou questão de perspectiva.
Resumo do fio
- Sobre a política ligada à COVID-19: Desde março de 2020, a empresa possui uma política sobre o tema, mas ela não "prevê a atuação em todo conteúdo inverídico ou questionável sobre a pandemia, mas em Tweets que possam expor as pessoas a mais risco de contrair ou transmitir a doença".
- Sobre a ferramenta de denúncia: A ferramenta foi introduzida como um teste nos Estados Unidos, Austrália e Coreia do Sul. A implementação para outros países dependerá de resultados, segundo a empresa, sem detalhar expectativa de prazo para isso.
- Sobre verificação: Twitter disse que foi lançada uma nova política de verificação tendo como base "comentários feitos pelas pessoas, cujos critérios estão disponíveis publicamente" e reafirmou que o objetivo do selo azul é confirmar "a autenticidade de perfis de alto alcance e engajamento". A empresa reconheceu que o processo de implementação está sujeito a imprecisões e equívocos e que ouviu questionamentos e fez reavaliações e "onde erros foram cometidos, fizemos correções". Até a publicação desta reportagem, todas as contas mencionadas aqui, com exceção do @OGatoBH, ainda possuíam o selo de verificação.
Em resposta a questionamento enviado por email, o Twitter direcionou o Núcleo ao fio.