A Brasil Paralelo, produtora audiovisual de conteúdos e cursos conservadores e de revisionismo histórico, impera sozinha como maior anunciante de política no Facebook e no Instagram, superando em muito outros grandes anunciantes como a pré-candidata presidencial Simone Tebet, o Greenpeace e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A produtora foi criada em 2016, mas um de seus primeiros vídeos virais foi uma peça de 2018, divulgada três dias antes do primeiro turno, que apontava para uma comprovadamente inverídica fraude eleitoral em 2014 – algo em linha com o discurso do presidente Jair Bolsonaro.
Esse vídeo tentou enganosamente utilizar uma lei matemática para explicar a suposta fraude – o que lhe deu ares de pseudo-credibilidade – e causou muita confusão à época, servindo de munição para apoiadores de Bolsonaro que temiam pela derrota do então candidato nas urnas (que, como se sabe, não se concretizou).
A produtora de vídeos também lidera em investimento em anúncios em 22 das 27 Unidades Federativas do país. Nos Estados de Amapá, Amazonas, Ceará, Pernambuco e Tocantins, a produtora perde para políticos locais.
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Enquanto o primeiro lugar nacional é ocupado pela empresa, em segundo lugar aparece a BP Select, plataforma de streaming que exibe os conteúdos da própria produtora.
Apenas nos últimos 30 dias, as empresas da Brasil Paralelo gastaram R$1,3 milhão
em 3.789
anúncios veiculados no Facebook e Instagram.
Em comparação, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata presidencial pelo MDB, investiu R$155 mil
em 50 anúncios, ficando com o posto de terceiro maior anunciante nos últimos 30 dias. Chama atenção que, entre os pré-candidatos, a senadora é a única que figura na Biblioteca de Anúncios da Meta, mas isso possivelmente se deve ao fato de que o período de campanha não tenha começado oficialmente.
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Racional dos anúncios
A quantidade significativa de anúncios rodados pela Brasil Paralelo faz parte de uma estratégia conhecida como "funil de vendas", explicou a pesquisadora Lori Regattieri em fio no Twitter:
Em uma semana, as duas páginas gastaram quase 263 MIL REAIS e rodaram cerca de 1412 peças. A estratégia de campanha, captação, aquisição e persuasão/conscientização funciona como um clássico funil de vendas do marketing digital: atrair, converter, relacionar, vender e analisar. pic.twitter.com/u6nMssclr0
— Lori Regattieri (@followlori) May 23, 2022
Segundo Regattieri, a empresa, a quem ela chama de "think-tank de extrema-direita" está "testando criativamente uma mesma peça variando orçamento, público-alvo e plataforma", mexendo com a segmentação de anúncios.
Realidade paralela
É fácil encontrar críticas à Brasil Paralelo como propagador de desinformação e negacionismo, em temas como pandemia e mudanças climáticas, além de apelar para o lado do público conservador com temas como o feminismo.
No entanto, a principal peça de desinformação da empresa foi um vídeo bem produzido que tenta colocar dúvidas sobre as eleições de 2018 a partir da chamada Lei de Benford – um modelo estatístico real, mas que foi distorcido para acomodar a narrativa de fraude.
O vídeo começou a circular pouco antes do primeiro turno e trazia um ex-procurador da Fazenda Nacional explicado como foi "a fraude".
Todas as alegações foram descartadas por especialistas de verdade e pelo TSE.
Com esse contexto, a maior cliente da Meta no Brasil no que diz respeito a anúncios política é uma página notadamente conhecida por propagar desinformação, mesmo que as políticas da empresa digam que isso não é permitido:

Entre agosto de 2020 e dezembro de 2021, a empresa gastou mais de R$5 milhões
em anúncios no Facebook, como mostrou o Intercept Brasil. O BP também está por trás de documentários feitos com aval do governo e com investimento de ruralista que refutam o desmatamento e distorcem questões indígenas, segundo reportagem da Agência Pública.
Em setembro de 2021, uma reportagem da revista piauí explicou como a produtora vinha tentando se desvencilhar do bolsonarismo para angariar mais assinaturas. A ideia, ali, era atingir "todo tipo de público" e se consagrar como alternativa à Netflix.
Quem mais paga por anúncios
Dados de anúncios veiculados nas plataformas da Meta nos últimos 30 dias mostram uma diversidade de atores e temas usando esse espaço.
Fora a Brasil Paralelo, vemos a pré-candidata Simone Tebet, a página do Greenpeace Brasil, a página do governo estadual de Minas Gerais, políticos locais e o Tribunal Superior Eleitoral.
Top 25 anunciantes de temas sociais, eleições ou política
nome | descrição | valor | anúncios |
---|---|---|---|
Brasil Paralelo | Brasil Paralelo | R$ 1.127.945 | 3.473 |
BP Select | Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S/A | R$ 214.386 | 316 |
Simone Tebet | MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO | R$ 155.034 | 50 |
Greenpeace Brasil | Greenpeace Brasil | R$ 108.112 | 152 |
Governo do Estado de Minas Gerais | Governo de Minas Gerais | R$ 71.255 | 121 |
Itamar Borges | Itamar Borges | R$ 60.826 | 650 |
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) | Tribunal Superior Eleitoral | R$ 57.999 | 29 |
Miguel Coelho | Miguel Leao Coelho | R$ 55.104 | 365 |
Câmara Municipal de São Paulo | Câmara Municipal de São Paulo | R$ 52.858 | 18 |
Senador Eduardo Braga | Carlos Braga | R$ 47.103 | 81 |
Célio Studart | Célio Studart Barbosa | R$ 42.250 | 166 |
Mídia NINJA | Mídia NINJA | R$ 38.529 | 62 |
Deputado Val Ceasa | Roosevelt Barcelos | R$ 36.203 | 51 |
Rafaela Garcia | Jakson Dos Santos Da Silva | R$ 34.116 | 224 |
Girl Up Brasil | Leticia Puech Bahia Diniz | R$ 32.740 | 9 |
Governo do Estado de São Paulo | Governo do Estado de São Paulo | R$ 32.674 | 4 |
Ranking dos Políticos | Associação Voto Real | R$ 31.675 | 30 |
Facio - Bem-estar financeiro | Facio Pagamentos Ltda | R$ 27.713 | 17 |
Jessica Rodrigues | Sales | R$ 27.404 | 88 |
Maurício Neves | Manoel Neves | R$ 24.585 | 114 |
Brasil Certo | BRASIL CERTO | R$ 23.531 | 93 |
InvestNews BR | Easynvest | R$ 22.642 | 43 |
Mônica Lopes | IBPOM | R$ 21.324 | 387 |
VEJA | Veja | R$ 20.362 | 56 |
Geraldo Mendes | GERALDO GABRIEL MENDES | R$ 20.098 | 151 |
COMO FIZEMOS ISSO
As informações sobre anúncios estão disponíveis publicamente na Biblioteca de Anúncios do Facebook. Olhamos especificamente para anúncios categorizados como "temas sociais, eleições ou política".