Após 11 meses de governo Lula, o Ministério da Saúde finalmente vai lançar um programa de combate à desinformação sobre vacinas nas redes sociais, fazendo parceria com plataformas para redirecionar usuários para informações confiáveis.
Por conta do acentuado negacionismo vacinal promovido na era Bolsonaro, esperava-se que o atual governo teria um programa contra desinformação logo no início do mandato, especialmente após o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, o que não aconteceu.
O lançamento do programa acontece em meio a uma queda na cobertura vacinal no país desde 2017, especialmente nos últimos dois anos – algo que especialistas e autoridades associam, em boa parte, a mentiras difundidas sobre o imunizante para Covid-19.
ADERÊNCIA. O programa “Saúde com Ciência” foi lançado na terça-feira (24.out), em conjunto com a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom-PR) e conta com a participação de Google, Kwai, Meta, TikTok e YouTube.
Notavelmente, X/Twitter e Telegram, duas grandes plataformas que notavelmente são mais tolerantes com esse tipo de conteúdo, não estão na lista. Em abril, o Núcleo revelou que canais antivacina bombam forte no Telegram, e a plataforma também é a predileta de criminosos que vendem certificados falsos de vacina.
Outros órgãos envolvidos
Além do MS e da Secom-PR, a Advocacia-Geral da União (AGU), a Coordenadoria-Geral da União (CGU) e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) também integram a iniciativa.
MUITO POUCO, MEIO TARDE. Qualquer iniciativa para combater hesitação vacinal é bem-vinda, mas o "Saúde com Ciência" é basicamente uma medida para ampliar o alcance das informações do Ministério da Saúde – o que é bacana, mas não chega a ser uma grande inovação.
O programa é uma saída muito fácil para as plataformas, que veem-se eximidas de precisar moderar, rotular, derrubar ou reduzir alcance de conteúdo antivax, colocando, em contrapartida, links e referências para sites do governo quando usuários fizerem buscas por palavras-chave relacionadas à vacinação.
Um “chatbot tira-dúvidas” também estará disponível no WhatsApp a usuários brasileiros a partir de novembro, além de um formulário de denúncias para desinformação em saúde.
Em um ano no qual o assunto de regulação de redes sociais bombou e basicamente desapareceu do cenário, esse tipo de iniciativa costura um manto amistoso entre Big Tech e governo, que até pouco tempo atrás não hesitava em colocar até a Secretaria Nacional do Consumidor e a AGU para atuar com moderação conteúdo, mas que hoje pouco se articula para avançar com o PL 2630.