Grupos que glorificam ataques a escolas seguem com espaço no Twitter/X

Mesmo após Operação Escola Segura, parceria do Ministério da Justiça e da Polícia Federal, essas comunidades seguem ativas, aponta novo relatório
Grupos que glorificam ataques a escolas seguem com espaço no Twitter/X
Arte por Rodolfo Almeida
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Grupos que glorificam ataques contra escolas no Brasil continuam com salvo-conduto no Twitter/X, incentivando novos atentados e promovendo práticas criminosas, mostrou um novo relatório.

Meses após a Operação Escola Segura, uma parceria do Ministério da Justiça e da Polícia Federal entre abril e junho de 2023, para desmantelar grupos que glorificavam ataques contras escolas nas redes sociais, essas comunidades continuam ativas, valendo-se da menor atenção dada pelo noticiário ao assunto.

Um relatório produzido pelas pesquisadoras Beatriz Lemos, Letícia Oliveira e Tatiana Azevedo aponta que esses tipos grupos não somente prosperam na plataforma, como tornaram-se ainda mais ativos em incentivar e promover práticas criminosas.

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Oliveira e Azevedo fizeram parte de um grupo de trabalho que analisou ataques em escolas durante o período de transição do Lula. Para conduzir as análises, as pesquisadoras acompanharam 800 usuários de grupos diversos.

O novo relatório foi criado como um complemento ao monitoramento anterior e servirá como base para a pesquisa do ministério sobre ataques em escolas brasileiras, disseram as pesquisadoras.

Em abril, o ministro Flávio Dino ameaçou banir do país as plataformas que não colaborassem com a investigação. Desde o início da Operação Escola Segura, o Twitter/X tem mantido comunicação com o governo brasileiro por meio de seu escritório no México, conforme reportado pelo Núcleo.

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O RELATÓRIO

Além das comunidades que glorificam ataques em escolas, o relatório identificou atividades de outros grupos. Isso inclui temas como cleptomania, transtornos alimentares, compartilhamento de conteúdo violento (gore), obsessão por pessoas e automutilação.

O Núcleo já reportou sobre esses problemas.

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O relatório aponta que, ao atuarem como diários virtuais e forjarem laços por afinidade, essas subcomunidades conseguem amplificar comportamentos prejudiciais aos jovens. Assim, funcionam como uma espécie de “família” digital, proporcionando aceitação, mesmo que isso implique no incentivo a práticas nocivas.

Com base na amostra inicial, as pesquisadoras estimam que existem cerca de 10 mil membros ativos desses grupos no Brasil. O relatório aponta que acessibilidade do Twitter/X para a interação entre usuários de diferentes países torna a comunicação visual essencial, diminuindo as barreiras linguísticas — possibilitando a troca de orientações sobre tópicos sensíveis, como o uso de substâncias ilícitas e comportamentos ilícitos.

A dinâmica identificada pelas pesquisadoras, sobretudo na comunidade que apoia massacres escolares, contribui para a persistência desses grupos, que violam as diretrizes da comunidade do Twitter/X.

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Apesar dos esforços da Operação Escola Segura em minar a atuação desse grupo na plataforma, o documento revela que seis indivíduos associados a essa subcomunidade no Twitter foram responsáveis por ataques ou tentativas recentes em escolas brasileiras: quatro em 2022 e dois em 2023. Os mais jovens tinham entre 12 e 14 anos de idade.

Embora esse grupo específico esteja em declínio, outros estão se expandindo. Cerca de 81,69% dos usuários da comunidade de apoio aos transtornos alimentares também estão envolvidos na comunidade de automutilação. Além disso, foi identificada uma correlação adicional entre o apoio à automutilação e a visualização de conteúdo violento, com cerca de 77% dos perfis analisados pertencendo a ambas as comunidades.

Uma postagem de fevereiro destaca um usuário que afirmou ter recebido uma oferta de pagamento por um vídeo de automutilação, e nos comentários outras pessoas manifestaram a disposição de aceitar pagamento por isso. Pelo menos dois dos usuários que responderam positivamente a essas ofertas afirmam ser menores de idade em suas biografias na rede social, um deles com apenas 14 anos.

Comentários da publicação de fev.23. Imagem: Núcleo

Essa prática não apenas viola os termos do Twitter/X, mas também a legislação brasileira. Em 2019, a lei de incentivo ao suicídio foi revisada para incluir a proibição do incentivo, seja ele verbal ou financeiro, à automutilação. A plataforma mantém uma página dedicada às diretrizes envolvendo automutilação e suicídio, proibindo expressamente a promoção de ambas as práticas, incluindo transtornos alimentares como uma forma de incentivo ao suicídio.

No caso das pessoas que compartilham vídeos de violência extrema, isso constitui uma violação da lei brasileira, de acordo com o artigo 212 do Código Penal.

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POSSÍVEIS SOLUÇÕES

As pesquisadoras têm algumas sugestões de possíveis soluções, que incluem monitorar esses grupos, como já indicado no relatório anterior, e também regulamentar empresas de tecnologia, como propõe o PL2630.

O projeto, atualmente parado no Congresso Nacional, propõe medidas como controle para pais, remoção de conteúdo ilegal e proteção da privacidade para regular as redes sociais e plataformas digitais no Brasil.

Quanto à moderação de conteúdo, as pesquisadoras recomendam evitar a exclusão completa de grupos problemáticos, pois isso pode fazer com que tais grupos migrem para outras plataformas, tornando a identificação e a assistência mais difíceis.

Em vez disso, propõem a inclusão de conteúdo positivo relacionado à saúde mental nas comunidades problemáticas, criado por especialistas. Isso permitiria ao Twitter e outras redes incorporar materiais de recuperação nos feeds, enfrentando o problema de maneira mais eficaz.

Reportagem Sofia Schurig
Arte Rodolfo Almeida
Edição Sérgio Spagnuolo

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