Twitter publica anúncio da Brasil Paralelo, que produziu e viralizou vídeo contra sistema eleitoral

Na contramão de redes como YouTube e Meta, onde tais peças são marcadas como "conteúdo de política"

O anúncio de um documentário da Brasil Paralelo, produtora por trás de um vídeo viral com informações falsas sobre o sistema eleitoral pouco antes das eleições de 2018, foi publicado no Twitter.

O post patrocinado da produtora vai na contramão de redes como YouTube (do Google) e Meta (Facebook + Instagram), nas quais essas peças do Brasil Paralelo são consideradas como "conteúdo de política" e sinalizadas como tal.

Além disso, ao contrário dessas concorrentes, o Twitter diz não permitir anúncios políticos na plataforma – o que indica que a rede não considera de teor político o anúncio da Brasil Paralelo.

A publicação paga, no entanto, é sobre um documentário que aborda "a instabilidade política do nosso país".

O Núcleo não entrou em contato com o Twitter nem com a Brasil Paralelo para esta nota, por entender que não há irregularidades no anúncio, somente disparidades entre o tratamento de grandes plataformas a respeito do mesmo conteúdo.

O Twitter tem um acordo com o TSE para combater desinformação nessas eleições e criou uma seção especial contra fake news – como as do vídeo da Brasil Paralelo de 2018.

Brasil Paralelo lidera gastos com ads de política no Facebook
Em 30 dias, produtora de vídeo viral contra sistema eleitoral em 2018 gastou R$1,3 mi em anúncios

CONTEXTO. A Brasil Paralelo, produtora audiovisual de conteúdos e cursos conservadores e de revisionismo histórico, diz que nunca apoiou nenhum partido ou político, e que se financia por assinaturas.

Apesar disso, o conteúdo de seus vídeos é claramente alinhado com os valores da ideologia vigente no atual governo, o que apela para a rede bolsonarista.

É fácil encontrar críticas à Brasil Paralelo como propagadora de desinformação e negacionismo, em temas como pandemia e mudanças climáticas, além de apelar para o público conservador com temas sobre o feminismo, por exemplo.

O relatório final da CPI da Covid citou o site da produtora no “Núcleo de produção e disseminação” de fake news, junto de outras páginas na internet e de perfis de influenciadores, como o do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, foragido da Justiça.

A Brasil Paralelo foi criada em 2016, mas um de seus primeiros vídeos virais foi uma peça de 2018, divulgada três dias antes do primeiro turno, que apontava para uma comprovadamente inverídica fraude eleitoral em 2014 – algo em linha com o discurso do presidente Jair Bolsonaro.

Esse vídeo tentou enganosamente utilizar uma lei matemática para explicar a suposta fraude – o que lhe deu ares de pseudo-credibilidade – e causou muita confusão à época, servindo de munição para apoiadores de Bolsonaro que temiam pela derrota do então candidato nas urnas (que, como se sabe, não se concretizou).

Brasil Paralelo lidera anúncios políticos no Google
Produtora de vídeos de revisionismo histórico gastou cerca de R$370 mil em anúncios desde nov.2021

QUAL O CONTEÚDO DO ANÚNCIO? No anúncio, a Brasil Paralelo traz o trailer de um documentário "definitivo" que estreará em agosto sobre a crise política no Brasil.

O vídeo denuncia "burocratas e políticos que usam a máquina pública para interesses próprios"

O trailer, bem produzido, tem imagens do Congresso Nacional, de Fernando Haddad e Lula (PT), de João Doria e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do ex-governador de São Paulo Maluf (Progressistas).

A produtora ainda oferece um ebook sobre "ideologias políticas" para quem se cadastrar no site.

Há uma ausência notável de figuras como o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores mais vocais.

REGRAS DO TWITTER SOBRE ADS DE POLÍTICA. O Twitter proíbe que conteúdo político seja promovido, independentemente do país. A premissa da empresa é a de que "o alcance da mensagem política deve ser conquistado e não comprado".

O que está incluso na proibição?

  • Conteúdo que faça referência a um candidato ou candidata, partido político, autoridade de governo eleita ou nomeada, eleições, referendos, urnas, legislação, regulação, diretiva ou resultado judicial;
  • Anúncios que façam referência a conteúdo político, incluindo apelações ao voto, solicitações de apoio financeiro, e ativismo em favor ou contra qualquer tipo de conteúdo político;
  • Candidatos, partidos políticos e autoridades de governo eleitas ou nomeadas também não podem promover anúncios.
As regras das redes sociais para anúncios políticos
Núcleo explica regras para publicidade política nas maiores redes em atuação no Brasil
Texto Sérgio Spagnuolo
Edição Julianna Granjeia

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