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A inação das plataformas de redes sociais ajudou a extrema-direita a consolidar a narrativa de fraude eleitoral ao redor e após o primeiro turno das eleições deste ano, sugere levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) ligados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT-DD).
É ✷ importante ✷ porque...
Plataformas dispõem de ações de moderação, mas houve pouca aplicação em conteúdos sobre fraude eleitoral
Exceção é o rótulo de direcionamento ao site do TSE que, aplicado indiscriminadamente, acaba banalizado
Levantamento alerta para papel desempenhado por pessoas comuns na construção e consolidação da narrativa de fraude
Independente de qual seja a plataforma, o estudo identificou que posts que contestam a integridade do processo eleitoral são pouco ou nada moderados. A exceção é o rótulo de encaminhamento ao site do Tribunal Superior Eleitoral, que é aplicado automaticamente na maioria dos posts - basta publicar um stories com a palavra eleição ou voto para ganhar a tarja.
Monitoramento do Núcleo de mais de 220 canais no Telegram identificou cerca de 8.000
mensagens que mencionam "fraude" nas 24 horas anteriores ao primeiro turno (3.out.22).
"O resultado de uma atuação pouco eficaz nesse quesito é a construção da narrativa de sistema eleitoral desintegrado a partir de um processo de postagem contínua e em rede, envolvendo tipos diferentes de perfis e apostando num constante clima de tensão entre população e poder público", afirmam os pesquisadores Tatiana Dourado, Rodrigo Carreiro e Maria Paula Almada, do INCT-DD.
A aplicação indiscriminada do rótulo pode alertar para uma banalização do seu efeito, que é o de fazer com que pessoas acessem o site da Justiça Eleitoral. Além disso, a aplicação do rótulo por si só não basta, já que esses posts que colocam em xeque a legitimidade do pleito podem continuar sendo compartilhados e curtidos nas redes.
"É uma política interessante, mas diante de um contexto em que a desinformação é muito central, só isso não basta e inserir esse rótulo de forma indiscriminada, inclusive abrangendo fontes de informação de credibilidade num momento em que as pessoas desconfiam dessas fontes equivale todas as fontes de informação", disse Tatiana Dourado ao Núcleo.
Isso porque o rótulo de redirecionamento ao site do TSE é aplicado tanto sobre publicações de veículos de credibilidade quanto veículos do ecossistema midiático bolsonarista.
Falta de transparência e clareza: Pesquisadores identificaram dezenas de posts que, para além de serem ataques à integridade eleitoral, violam regras das próprias plataformas. Todos os links permaneciam ativos até 19.out, quando o estudo foi concluído.
Para Tatiana, falta transparência sobre os critérios e sua gradação que justificam cada ação de moderação – e o porquê dela não ter sido usada.
"Basicamente o rótulo automatizado serviu de símbolo da moderação, mas não existe uma clareza de o porquê de um conteúdo não ser removido já que ele viola regras da plataforma", pontuou a pesquisadora.
Gente como a gente
O levantamento alerta para o papel desempenhado por pessoas comuns com contas de baixo alcance para o funcionamento desta rede que promove a narrativa de fraude nas urnas.
Na avaliação dos pesquisadores, "cabeças de rede" puxam a narrativa para um lado, pautando o posicionamento, e são seguidos por outros perfis de diferentes capacidades de engajamento. Usuários comum integram essa rede pois agem como transmissores das informações enganosas em seus perfis e em suas micro-redes, consolidando-se ali como vozes de influência.
"Os líderes de opinião, os representantes, os grandes influentes do campo bolsonarista dialogam com campanhas de informação que atuam nessa camada não-oficial. Então é uma reverberação mútua", disse Dourado.
"Esses pequenos atores cumprem funções importantíssimas de popularizar narrativa, ela não fica só restrita ao líder de opinião, ela fica espraiada nessa rede extensa a partir de contas comuns", complementou.
No levantamento, os pesquisadores identificaram centenas de posts de usuários comuns e com pouco engajamento sem qualquer rótulo ou ação de moderação, permitindo que esses conteúdos continuem circulando livremente.
Ainda de acordo com a pesquisa, essa organização em camadas permitiu que, quando os candidatos bolsonaristas mais influentes precisaram interromper momentaneamente os ataques às urnas para fazer campanha positiva a favor de Bolsonaro ou contra Lula, a narrativa não perdesse força graças a atores menores e à mídia conservadora.