Youtubers de extrema-direita tentam migrar para plataformas de vídeo alternativas

Alvo de moderação no YouTube, influenciadores da extrema-direita ensaia ocupar redes mais lenientes, como Rumble e Cos.TV, mas migração ainda não decolou
Youtubers de extrema-direita tentam migrar para plataformas de vídeo alternativas
Arte: Rodolfo Almeida
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Desde 2021, figuras conhecidas da extrema-direita no YouTube tentam migrar para redes de vídeo alternativas e com moderação mais leniente – principalmente em momentos nos quais a plataforma do Google apertou a moderação ou perto de decisões judiciais contra fake news.

Para o Núcleo, agência de dados Novelo analisou menções a duas redes alternativas – Rumble e Cos.TV – em vídeos publicados no YouTube por canais populares da extrema-direita, e identificou picos que coincidem com banimentos ou endurecimento de regras de moderação do YouTube.


É importante porque...

Tentativa de migração de plataformas pela extrema-direita mostra que moderação de redes maiores tem incomodado

Movimento elucida novas plataformas e tecnologias que estão sendo escolhidas para tal migração


Foi identificado que, a partir de jan.2021, iniciou-se uma tentativa silenciosa de migração, e canais como Vlog do Lisboa, NTD Português e Instituto Plínio Corrêa de Oliveira criaram canais no Rumble e passaram a colocar o link nas descrições dos vídeos no YouTube.

Em mai.2021, a tentativa de migração fica mais explícita, quando o influencer bolsonarista, eleito deputado federal em 2022, Gustavo Gayer (PL-GO) publica vídeo com o título "Não podemos ficar só no YouTube" e chamando para sua recém-inaugurada conta na Cos.TV.

Quatro dias antes, Gayer já tinha publicado seu primeiro vídeo na Cos.TV atacando a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Rosa Weber.

Na esteira do anúncio de Gayer, outros canais da extrema-direita tentaram levar seus espectadores para Cos.TV ou Rumble – este último que ganhou mais notoriedade no último ano, após o jornalista Glenn Greenwald ter lançado um canal por lá, que já conta com cerca de 300 mil inscritos.

Depois de Greenwald, o polemista profissional Monark também criou um canal, que agora tem 250 mil inscritos.

Pesquisa aponta dados sobre usuários do Rumble
Não é uma surpresa, mas os pesquisadores identificaram que o público da rede é composto por homens, brancos, de direita, com 30 a 49 anos

TENTATIVA FRUSTRADA

Dados sobre o Rumble analisados pela NoveloData mostram que há picos de atividade acerca dessa rede, mas que, apesar da convocação aberta dos próprios youtubers, a migração não atraiu grandes resultados.

Sobre Rumble, em volume de buscas por termos específicos, é possível enxergar algumas altas no interesse pela plataforma:

  • out.2021 – possivelmente ligado à decisão do YouTube de endurecer regras contra desinformação sobre vacinas –  e depois outro em abr.2022;
  • foi também em out.2021 que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a prisão preventiva do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que é pioneiro em migrar para plataformas alternativas por ser banido das mais tradicionais pela Justiça;
  • em mar.2022, o YouTube divulgou uma atualização de suas diretrizes de comunidade referentes às eleições para além de regras que já existiam, como a proibição de certos conteúdos que desinformam;
  • em abr.2022 acabou sendo o melhor mês em volume de vídeos publicados pelos canais alternativos monitorados.
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PICO DE INTERESSE: Abr.2022 é um mês bem notável, registrando um dos picos de maior interesse, segundo a Novelo.

Esse pico coincide com dois eventos:

  • a limpeza em vídeos de YouTube que atacava a Justiça Eleitoral que foi revelada pelo jornalista Guilherme Felitti (e que gerou ameaças contra ele);
  • a estreia no Rumble do MonarkTalks, programa de entrevistas do Monark após ele ter sido banido do Youtube.

Nesse mesmo mês, também, o STF condenou o então deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ) por ataques feitos a integrantes da corte em vídeos publicados em suas redes sociais.

Mas o movimento que era crescente perdeu força nos meses seguintes, ficando abaixo de 500 vídeos publicados por mês. Em set.2022 e depois dez.2022 - período de campanha eleitoral -, o volume de vídeos cresce pontualmente.

Em out.2022, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou que o Youtube desmonetizasse os canais do Brasil Paralelo, Folha Política, Foco do Brasil e DR. News.

Em dez.2022, o crescimento está ligado à ação mais contundente do Youtube para desmonetizar ou banir canais golpistas, como foi o caso do então comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo.

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COS.TV

No Cos.TV, o movimento é semelhante: houve dois picos de volume de vídeos. O primeiro é em mai.2021, quando Gustavo Gayer estreia na rede social outro começando em jan.2022, quando os youtubers Lisboa e EdRaposo tentam engatar na plataforma.

Mas, desde abril, o movimento só caiu. Em dez.2022, foram apenas 331 vídeos publicados contra 714 no auge.

No canal de Gayer, com mais de 60.600 inscritos, há vídeos que atacam a Justiça e o presidente Lula (PT), além do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB). Em uma das publicações, o deputado bolsonarista diz que a extrema-direita está sendo censurada e ensino os usuários a inscreverem e deixar comentários monetizados, por meio de criptomoedas, nos vídeos.

CONTEÚDO

O Rumble é a plataforma de vídeos preferida pela extrema-direita mundial por se vender como um local livre de censura.

Entre os vídeos mais virais no Rumble em todo mundo, na quarta-feira (18.jan.2023), estava o "Oeste sem filtro" do canal da Revista Oeste, com 267 mil visualizações e mais de 300 comentários.

O programa é apresentado por Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Guilherme Fiuza e Silvio Navarro, demitidos da Jovem Pan após o canal receber uma série de sanções judiciais.

Os apresentadores discorrem sobre uma suposta censura do judiciário, elogiaram Glenn Greenwald e atacam ministros do governo Lula.

No início desta semana, a Revista Oeste foi desmonetizada pelo YouTube por “conteúdo nocivo”.

Ao definir sua política de conteúdos nocivos, o YouTube diz não permitir “conteúdo que incentive atividades ilegais ou perigosas com risco de danos físicos graves ou de morte”. As regras também se aplicam a links externos, segundo a plataforma.

💡
Levantamento conjunto entre o jornal O Globo, Novelo Data e Bites mostrou, no ano passado, que canais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) faturaram até R$1 milhão com a reprodução de 1.960 vídeos no YouTube, que renderam 57,9 milhões de visualizações. Gayer foi um dos que mais lucraram.
Texto Laís Martins e Sofia Schurig
Arte e gráficos Rodolfo Almeida
Edição Julianna Granjeia e Sérgio Spagnulo

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